sexta-feira, 28 de março de 2008
Monarco em Floripa e Terreiro Grande no Rio
terça-feira, 25 de março de 2008
Humor na Tristeza
Nara Leão morreu de um tumor no cérebro. Isso sabemos agora. Desde que o problema foi diagnosticado até o desenlace, Nara, com a dignidade absoluta que lhe era peculiar, manteve segredo, nem seus amigos íntimos souberam. O primeiro sintoma, que a fez procurar um neurologista, foi um desmaio que sofreu em pleno banho. Com a queda, ela se feriu levemente, além de levar muito tempo para recuperar plenamente a lucidez. Após os exames, ainda hospitalizada, eis que Nara recebe flores de Vinicius acompanhadas de um bilhete: “Quando você tiver de cair, caia por cima de mim, caia por cima de mim...” O Poetinha citava, lá a seu modo, os versos de “O que é que a baiana tem”, de Caymmi: “Quando você se requebrar, caia por cima de mim, caia por cima de mim”. Impossível que Nara não tenha sorrido com a brincadeira.
Outra história de pessoa acamada envolve Ary Barroso e Antônio Maria. Sempre houve entre os dois uma longa discussão sobre “Ninguém me ama”, o grande sucesso de Antônio Maria, um samba-canção que Ary insistia que tinha de ser classificado como bolero. Indo Antônio Maria visitar Ary Barroso em seu leito de morte no hospital, recebe do paciente um estranho pedido: “Me faz um favor, canta ‘Aquarela do Brasil’.” Emocionado, Antônio Maria canta por inteiro o famoso samba. Ary, então, retruca: “Agora me pede para cantar ‘Ninguém me Ama’.” Intrigado, Antônio Maria faz o pedido. E Ary Barroso, numa vingança derradeira, afirma ao amigo: “Eu não sei.”
domingo, 23 de março de 2008
Há 61 anos nascia o Império Serrano
Saibam todos que a Império Serrano deu frutos como, além dos já citados, Silas de Oliveira, considerado o maior compositor de sambas-enredo de todos os tempos, e Mano Décio, Mestre Fuleiro, Aniceto , Aloísio Machado, Beto sem Braço, Roberto Ribeiro e Dona Ivone Lara, para citar apenas os mais conhecidos.
Sou imperiano desde 1971, motivado e influenciado pela alegria de um amigo de infância chamado Gustavo, que me fez prestar a atenção num desfile lindo em que a Escola mostrou o
A feijoada que ontem comemorou a data foi uma grande festa. Parabéns Império. Que em 2009, quando você abrir o desfile do Grupo Especial no carnaval carioca, tenhamos mais uma demonstração de nossa garra e amor pela Escola.
sexta-feira, 21 de março de 2008
O Samba nasceu na Bahia?
Será mesmo que o samba nasceu lá na Bahia? Esta é uma discussão antiga. Uma das versões mais repetidas na literatura disponível, dá conta que o samba nasceu da mistura de estruturas musicais trazidas da Europa pelos colonizadores, e do ritmo introduzido aqui pelos escravos, negros vindos da África. O pensamento segue a linha que, no fim do século XIX, abolida a escravatura, e esgotado o ciclo do café, ex-escravos vindos da região paulista do Vale do Rio Paraíba, juntaram-se, nos morros do Rio de Janeiro - então capital do País –, com os negros fugidos da Bahia e do Nordeste, das guerras regionais, tais como Canudos.
Daí, as modinhas e polcas misturaram-se com os lundus, umbigadas e batuques, gerando os maxixes, marchas, choros e o próprio samba, que passaram a ser ouvidos, ainda no século XIX, em muitos pontos da cidade do Rio de Janeiro. A Bahia entra na história porque a casa de baianas como Ciata, Amélia e Perciliana,, foram referências de encontros dos músicos e batuqueiros negros da época. Todas baianas, Tia Perciliana é mãe de João da Baihana, exímio ritmista, e Tia Amélia é mãe do chorão e sambista Donga. Para se ter uma idéia da importância destas baianas, registremos apenas que até hoje são reverenciadas através das exuberantes “Alas de Baianas”, nos desfiles das Escolas de Samba do Rio.
Penso eu que o samba pode até ter nascido na Bahia. Mas só ganhou a estrutura que hoje apreciamos e a fama que ultrapassa as fronteiras do País, no Rio. Lá, quando se “urbanizou” na fervilhante metrópole carioca, influenciado por muito mais acontecimentos e culturas, exibiu o humor, a graça e o alegre viver do carioca, ganhando a força e a riqueza que tem até hoje. E como diz o sambista Nélson Sargento, o samba, por vezes, “agoniza, mas não morre”. Atualmente está “bombando”. Graças a Deus!
Neste início de século XXI, o samba está forte e recebe, diariamente, o prestígio de milhares de jovens no Rio e em São Paulo. Dezenas de "Rodas" participativas estão ocorrendo nas duas cidades, revelando muitos novos talentos e dando luz`ao velho ritmo. A procura é tanta que é preciso reservar lugar com antecedência para freqüentar as casas de shows no bairro da Lapa, no Rio, ou as rodas de sambas concorridas de Santo Amaro e adjacências, em São Paulo.
E na Bahia? Será que o samba tem o mesmo brilho nos dias atuais? Pois então..., onde dizem que o samba nasceu, imperam hoje o “pagode e axé”. O samba da Bahia e seus artistas estão na sombra, lamentando e pedindo apoio para mostrar-se aos jovens da “Boa Terra”. Renomados sambistas como Chocolate e Roque Ferreira, fixados em Salvador, não encontram a mesma acolhida que cariocas e paulistas hoje dão a obras de Batatinha e Riachão, baluartes do samba baiano, nas noites animadas.
Alguns outros sambistas baianos estão com “o boi na sombra”, como diz o Zeca Pagodinho, ao referir-se àqueles que não precisam correr tanto atrás contratos e ganham o suficiente para seu sustento. É que circulando no eixo Rio-São Paulo sempre são chamados a participar de shows. É o caso de Nelson Rufino, parceiro de Noca da Portela, Jorge Aragão e Martinho da Vila, cujos sambas continuam em evidência, interpretados pelos grupos de samba de sucesso no momento. É também o caso do baiano Délcio Carvalho, parceiro de 35 anos de Dona Ivone Lara, que comemora a data com um show em Niterói , neste final de semana.
Insistente, Edil Pacheco, compositor baiano de samba autêntico que continua em Salvador, já tenta reconstruir, nas quintas-feiras, no Campo Grande, o mesmo clima de alegria e sucesso da Lapa carioca. Torçamos para que o “fervo” ocorra mesmo e, também na terra onde acredita-se ter nascido o samba, o maravilhoso ritmo ganhe o espaço que merece. Salve o samba brasileiro!
quarta-feira, 19 de março de 2008
Mauro Duarte: mineiro bom de samba
O que me fez retomar a pesquisa sobre o Mauro Duarte foi saber que a Cristina Buarque lançou, com o Grupo Samba de Fato, um CD duplo com 30 canções, intitulado “O Samba informal de Mauro Duarte”. A iniciativa é de um dos integrantes do Samba de Fato, o Alfredo Del-Penho, baseado numa pesquisa feita pela própria Cristina , ajudada por Paulo César de Andrade, sobre a obra de Mauro. Da pesquisa resultaram outros tabalhos gravados, como mais recentemente, o de Mart’nália.
Quem ouve as faixas reconhece a marca inconfundível de Mauro: composições em tom menor, que sugerem uma certa tristeza, uma saudade. Mas a beleza de suas melodias – que eu já conhecia de um LP de 1985 chamado “Cristina Buarque e Mauro Duarte” – são dignas de referência. Daquela antiga bolacha eu gosto muito de “Sorri de mim”, parceria com Walter Alfaiate, seu vizinho do bairro de Botafogo. Aliás “Bolacha” era também o apelido de Mauro.
O “Samba de Fato” é um grupo que surgiu há três anos. Seus integrantes (Alfredo Del-Penho, Pedro Miranda, Paulino Dias e Pedro Amorim) são versáteis e cantam e tocam diversos instrumentos. Quem freqüenta a Lapa destes iniciais anos do século XXI, já teve o prazer de ouví-los por diversas vezes, uma vez que integram o circuito que fez renascer o samba autêntico no antigo bairro carioca.
Dos sambas deste CD duplo, 18 são inéditos e alguns até foram terminados por Paulo César Pinheiro, a partir de fitas encontradas no acervo pessoal do "Bolacha", seu parceiro maior, no ano de 2006. Uma outra canção do CD – Caprichosos de Pilares - foi feita em 1947 em homenagem a Escola de Samba de mesmo nome. Gostava das Escolas e homenageou várias agremiações. Mauro era visto nas quadras da São Clemente e da Estrela de Botafogo e não faltava a uma Roda de Samba do “Bip-Bip” em Copa. Eita mineirinho bom de samba hein?
segunda-feira, 17 de março de 2008
Viola de Lereno
Bem, Lereno, infelizmente, não é, foi. Foi um carioca chamado Domingos Caldas Barbosa, nascido em 1740, primeiro astro da posteriormente chamada MPB. Depois de pontificar em tertúlias no Porto, na corte de Lisboa e no Rio, Domingos quis ser lembrado como poeta sério e publicou a coletânea de versos chamada “Viola de Lereno”, adotando um nome pastoril, como era costume entre os poetas de então. Mas o Domingos gostava mesmo era da gandaia. Foi estudar em Coimbra, desistiu, preferiu ficar apenas na companhia dos estudantes e dos homens ditos sérios que, nas tavernas e nos salões, tocavam a viola, o machete, a guitarra, e cantavam amores, veros ou imaginados, entre copos de variados teores alcoólicos.
O mulato Domingos fez nome. Mereceu até citação em poema de Bocage, outro poeta mais do que chegado a uma noitada alegre. Bocage o criticou, claro, temia a concorrência. Pois as modinhas e os lundus de Domingos enfeitiçavam a todos que os ouviam, principalmente às suspirosas moçoilas. Como é que um sujeito pardo, vindo da barbárie da colônia, podia suplantar os versejadores da Corte? É, ele suplantava. Depois de ensinar aos reinóis como fazer música que agradasse ao povo, voltou para o Rio de Janeiro e se esbaldou. Na sua obra está uma das raízes de nossa música popular, misturando as almas lusa e africana, no cenário da alegria carioca.
Como este blog pertence a um outro Caldas, que também se dedica a dedilhar nas cordas a alma carioca, achei bom lembrar, logo de início, que os cantadores do Rio são uma família antiga, muito antiga, que nunca pára de crescer. É isso.
João
Nota do blogueiro: João Daltro é carioca, salgueirense e reside na Praia Brava, em Floripa.
domingo, 16 de março de 2008
E não é que o "Mora na Filosofia" virou Blog?
Em dezembro de 2004 "surtei" ao ter o primeiro contato com o Grupo "Sementes" e Teresa Cristina num programa da TV Educativa, num domingo que não prometia muito. Era samba autêntico e eu não conhecia. Mas como? Daquele momento para cá a vontade de pesquisar, tocar e respirar o samba autêntico só cresceu.
Na época, comecei a escrever algumas linhas sobre samba, assunto que me dominava e me fascinava e que continua "me dando pilha", num sítio da internet. A este espaço cibernético dei o nome de "Mora na Filosofia". Pois bem, agora me veio a vontade de continuar a defesa e a divulgação do samba autêntico. Como o Blog tem sido uma moderna forma de comunicação, recomeço de onde parei, em 2005, mas agora através de um blog.