sexta-feira, 21 de março de 2008

O Samba nasceu na Bahia?

Será mesmo que o samba nasceu lá na Bahia? Esta é uma discussão antiga. Uma das versões mais repetidas na literatura disponível, dá conta que o samba nasceu da mistura de estruturas musicais trazidas da Europa pelos colonizadores, e do ritmo introduzido aqui pelos escravos, negros vindos da África. O pensamento segue a linha que, no fim do século XIX, abolida a escravatura, e esgotado o ciclo do café, ex-escravos vindos da região paulista do Vale do Rio Paraíba, juntaram-se, nos morros do Rio de Janeiro - então capital do País –, com os negros fugidos da Bahia e do Nordeste, das guerras regionais, tais como Canudos.

Daí, as modinhas e polcas misturaram-se com os lundus, umbigadas e batuques, gerando os maxixes, marchas, choros e o próprio samba, que passaram a ser ouvidos, ainda no século XIX, em muitos pontos da cidade do Rio de Janeiro. A Bahia entra na história porque a casa de baianas como Ciata, Amélia e Perciliana,, foram referências de encontros dos músicos e batuqueiros negros da época. Todas baianas, Tia Perciliana é mãe de João da Baihana, exímio ritmista, e Tia Amélia é mãe do chorão e sambista Donga. Para se ter uma idéia da importância destas baianas, registremos apenas que até hoje são reverenciadas através das exuberantes “Alas de Baianas”, nos desfiles das Escolas de Samba do Rio.

Penso eu que o samba pode até ter nascido na Bahia. Mas só ganhou a estrutura que hoje apreciamos e a fama que ultrapassa as fronteiras do País, no Rio. Lá, quando se “urbanizou” na fervilhante metrópole carioca, influenciado por muito mais acontecimentos e culturas, exibiu o humor, a graça e o alegre viver do carioca, ganhando a força e a riqueza que tem até hoje. E como diz o sambista Nélson Sargento, o samba, por vezes, “agoniza, mas não morre”. Atualmente está “bombando”. Graças a Deus!

Neste início de século XXI, o samba está forte e recebe, diariamente, o prestígio de milhares de jovens no Rio e em São Paulo. Dezenas de "Rodas" participativas estão ocorrendo nas duas cidades, revelando muitos novos talentos e dando luz`ao velho ritmo. A procura é tanta que é preciso reservar lugar com antecedência para freqüentar as casas de shows no bairro da Lapa, no Rio, ou as rodas de sambas concorridas de Santo Amaro e adjacências, em São Paulo.

E na Bahia? Será que o samba tem o mesmo brilho nos dias atuais? Pois então..., onde dizem que o samba nasceu, imperam hoje o “pagode e axé”. O samba da Bahia e seus artistas estão na sombra, lamentando e pedindo apoio para mostrar-se aos jovens da “Boa Terra”. Renomados sambistas como Chocolate e Roque Ferreira, fixados em Salvador, não encontram a mesma acolhida que cariocas e paulistas hoje dão a obras de Batatinha e Riachão, baluartes do samba baiano, nas noites animadas.

Alguns outros sambistas baianos estão com “o boi na sombra”, como diz o Zeca Pagodinho, ao referir-se àqueles que não precisam correr tanto atrás contratos e ganham o suficiente para seu sustento. É que circulando no eixo Rio-São Paulo sempre são chamados a participar de shows. É o caso de Nelson Rufino, parceiro de Noca da Portela, Jorge Aragão e Martinho da Vila, cujos sambas continuam em evidência, interpretados pelos grupos de samba de sucesso no momento. É também o caso do baiano Délcio Carvalho, parceiro de 35 anos de Dona Ivone Lara, que comemora a data com um show em Niterói , neste final de semana.

Insistente, Edil Pacheco, compositor baiano de samba autêntico que continua em Salvador, já tenta reconstruir, nas quintas-feiras, no Campo Grande, o mesmo clima de alegria e sucesso da Lapa carioca. Torçamos para que o “fervo” ocorra mesmo e, também na terra onde acredita-se ter nascido o samba, o maravilhoso ritmo ganhe o espaço que merece. Salve o samba brasileiro!

5 comentários:

Joana Caldas disse...

Que chique o blog, tem até foto!
E você puxando a sardinha para o Rio?
Congratulations
Cheers
Nana x

Romario Martinello disse...

Tá muito bom, Caldas. Bom mesmo! Parabéns! Mas você não acha que deveria enriquecer mais. Algo assim: links com suas composições; abrir espaço para sambas inéditos, etc. e tal?
Um abração!
Romário

CLÁUDIO CALDAS disse...

Joana,
Grato pela visita. Acabei puxando né? Mas sabe como é...eu penso assim mesmo...grande beijo.

CLÁUDIO CALDAS disse...

Romário,
Muito obrigado pelo prestígio e pelo incentivo. Tô aprendendo a lidar com isso...com o tempo, quem sabe, chegamos lá? Grato pelas sugestões e um abração, irmão!

leny disse...

Sempre me perguntei se o bamba nasceu na Bahia!
se ele é branco na poesia?
e negro demais no coração?
foi bom ler seu comentário!